segunda-feira, 14 de março de 2011

Uma crônica besta

A história de Chiquinho

Chiquinho sempre foi um cara legal. Pacato, o amigo de todos que procurava ser simpático e educado com quem estava à sua volta. Um tipo de pessoa sempre bem vinda em qualquer ambiente. Quando criança, admirava os manda-chuvas do pequeno lugarejo onde morava e sonhava um dia ser tão importante quanto eles.
Pois não é que o tempo passou e os caminhos tortuosos da vida acabaram conduzindo Chiquinho para o convívio daquelas pessoas?! Alguns dizem que foi coincidência, outros que foi sorte. Já os mais céticos afirmam não foi uma coisa nem outra. Para eles Chiquinho, de forma inconsciente, direcionou sua vida para chegar ao “ninho das cobras”.
Durante muito tempo ele conviveu ali com grande desenvoltura. Pensava e agia como eles. Tudo ia bem até que Chiquinho começou perceber que por trás daquele clima de amizade e benevolência para com a coletividade havia outros interesses. Foi então que ele, digamos, se rebelou. Sua forma de pensar começou a mudar, assim como suas atitudes. Ao mesmo tempo em que procurava se afastar daquele grupo, o grupo procurava afastá-lo, pois já viam nele uma ameaça para seus interesses.
Durante esse processo Chiquinho procurou conhecer os manda-chuvas dos vilarejos e cidades vizinhas e percebeu que nesse meio, a merda é sempre a mesma, o que muda são as moscas que ficam em volta. Chiquinho então se deu conta de que o mundo real é bem diferente daquele idealizado em sua mente na infância. O mundo real é cruel e nesse mundo vale tudo. Quem pode mais chora menos.
Desde então Chiquinho continua um cara legal, pacato, simpático e educado, mas vive um eterno dilema. Às vezes tem vontade chutar o pau da barraca, botar a boca no trombone e torna-se um revolucionário disposto a lutar contra o sistema. Depois tem períodos de conformismo por achar que se fizer isso não vai conseguir mudar nada e ainda pagará um preço alto por tentar iluminar a visão de quem quer continuar nas trevas. E assim nosso Chiquinho, assim como milhares de Chiquinhos espalhados por esse mundo de meu Deus, vai seguindo seu caminho, vivendo um dia depois do outro e outro dia depois do um. Porém, de bobo, ele só conserva a cara e o jeito de andar. Ao invés de ser enganado, é ele quem engana os que pensam que o enganam. Chiquinho se finge de morto, mas está vivíssimo e se bobear, uma hora dessas periga traçar o coveiro.

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